Biografia
Anna Bella Geiger (Rio de
Janeiro RJ 1933). Escultora, pintora, gravadora, desenhista, artista intermídia
e professora. Com formação em língua e literatura anglo-germânicas, inicia, na
década de 1950, seus estudos artísticos no ateliê de Fayga Ostrower (1920 -
2001). Em 1954, vive em Nova
York, onde freqüenta as aulas de história da arte com Hannah
Levy no The Metropolitan Museum of Art - MET [Museu Metropolitano de Arte] e,
como ouvinte, cursos na New York University. Retorna ao Brasil no ano seguinte.
Entre 1960 e 1965, participa do ateliê de gravura em metal do Museu de Arte
Moderna do Rio de Janeiro - MAM/RJ, onde passa a lecionar três anos mais tarde.
Em 1969, novamente em Nova
York, ministra aulas na Columbia University. Volta ao Rio de
Janeiro em 1970. Em 1982, recebe bolsa da John Simon Guggenheim Memorial
Foundation, em Nova
York. Publica, com Fernando Cocchiarale (1951), o livro
Abstracionismo Geométrico e Informal: a vanguarda brasileira nos anos
cinqüenta, em 1987. Sua obra é marcada pelo uso de diversas linguagens e a
exploração de novos materiais e suportes. Nos anos 1970, sua produção tem
caráter experimental: fotomontagem, fotogravura, xerox, vídeo e Super-8.
Dedica-se também à pintura desde a década de 1980. A partir da década de
1990, emprega novos materiais e produz formas cartográficas vazadas em metal,
dentro de caixas de ferro ou gavetas, preenchidas por encáustica. Suas obras
situam-se no limite entre pintura, objeto e gravura.
Num primeiro momento, o
trabalho de Anna Bella Geiger vincula-se ao abstracionismo informal. Aluna de
desenho, gravura e pintura de Fayga Ostrower (1920 - 2001) a partir de 1950, a artista participa
da 1ª Exposição Nacional de Arte Abstrata, no Hotel Quitandinha, em Petrópolis,
Rio de Janeiro, em 1953. Após uma pausa na atividade artística, motivada pelo
ingresso na Faculdade Nacional de Filosofia e viagem de estudo aos Estados
Unidos, Geiger freqüenta o ateliê de gravura em metal do Museu de Arte Moderna
do Rio de Janeiro - MAM/RJ de 1960
a 1965. Nesse período, completamente dedicada à gravura,
ela passa a desenvolver uma figuração de base abstrata.
De 1965 a 1968, Geiger produz o
que é chamado pela crítica de "fase visceral", sob a influência da
nova figuração. As imagens trazem a pesquisa da realidade orgânica mediante a
representação fragmentada do corpo como referência a um possível mapa do
microcosmo. Essa fase antecipa a utilização da cartografia em sua produção,
cujo eixo central é o questionamento da noção de limitação de territórios
culturais baseados em fronteiras geográficas, por exemplo, a problematização da
existência de uma "cultura brasileira" comum a todos os habitantes da
nação. Ao mesmo tempo Geiger compõe suas imagens com base em chapas de metal
recortadas, explicitando e explorando artisticamente o próprio processo
material de produção da técnica de gravura em metal.
Apesar da importância e
constância da gravura em sua obra, em Circumambulatio (1972) percebe-se a
necessidade de Geiger de encontrar novos meios de expressão. Nesse sentido, sua
produção da década de 1970 é marcada por um caráter eminentemente experimental:
fotogravura, fotografia clichê, fotomontagem, serigrafia, xerox, cartão-postal,
vídeo, Super-8, são algumas das mídias utilizadas pela artista. Estimulada
pelas questões levantadas pela arte conceitual e o momento político vivido, ela
apresenta em seus trabalhos sobretudo questões relativas à identidade e cultura
nacional, ao local do artista na sociedade, à constituição do meio de arte no
Brasil e sua posição no mundo.
A série Brasil
Nativo/Brasil Alienígena (1977), na qual Geiger dispõe nove cartões-postais com
cenas da vida indígena lado a lado com retratos de sua vida cotidiana, é
emblemática do período. Nela a cultura brasileira é pensada como resultado de
tensões, continuidades e descontinuidades, a negar uma unidade cultural
orgânica.
Nesse momento, o uso
irônico e transgressor da cartografia torna-se um elemento fundamental do
trabalho em séries como O Pão Nosso de Cada Dia e Local da Ação. O caráter
icônico dos mapas é tensionado a fim de criar uma verdadeira "topografia
da arte", e simultaneamente problematizar as delimitações (culturais,
políticas, sociais) indiciadas por fronteiras e limites.
Nos anos 1980 a artista começa a
pintar e desenvolve longas séries, como Píer & Ocean, fazendo uma
reavaliação crítica tanto da história da pintura quanto dos signos de seus
trabalhos anteriores. Os anos 1990 são marcados por séries como Fronteiriços,
em que novos materiais são usados. As formas cartográficas reaparecem vazadas
em metal dentro de caixas de ferro ou gavetas de mapotecas preenchidas por
encáustica. No limite entre gravura, pintura e objeto, essas obras são o
emblema perfeito de toda sua produção na medida em que atualizam as séries
anteriores. Mais recentemente, retoma seus interesses pelas novas tecnologias
utilizando o vídeo em associação com a gravura (clichês de metal) e arquivos de
ferro na instalação Indiferenciados (2001).
Nenhum comentário:
Postar um comentário