domingo, 27 de abril de 2014

Paulo Laurentiz



Paulo Laurentiz

Nasceu em São Paulo, em 1953, e faleceu em 1991. Graduado em artes pela Faap e em propaganda pela Escola Superior de Propaganda e Marketing. Fez mestrado em comunicação e semiótica pela PUC/SP e doutorado pela mesma instituição com a tese A Holarquia do Pensamento Artístico. Lecionava desde 1988 no Instituto de Artes da Unicamp, em cursos de pós-graduação. Enquanto artista-produtor, reunia diversas participações: Diversões Eletrônicas e A Trama do Gosto, trabalhos em SSTV, Fundação Bienal, São Paulo, 1988; Intercities e City Portraits e Impromptu, eventos internacionais, trabalhos em fac-símile, 1988-1990. Foi importante articulador de acontecimentos na área de arte/tecnologia, além de ter sido também um dos primeiros a teorizaram sobre esse assunto no Brasil (seu livro/tese A Holarquia do Pensamento Artístico é hoje um clássico na área). Esteve à frente de alguns dos mais importantes eventos na área de arte-comunicação.

Alguns trabalhos

21ª Bienal Internacional de São Paulo, instalação multimídia, (1991, com o grupo *.*). 
HorizontownHorizontao, instalação, Centro Cultural São (1986) 
Instalações Elétricas, no MIS, São Paulo (1988) 


IMPORTÂNCIA DE SUA OBRA
Paulo Laurentiz foi importante articulador de acontecimentos na área de arte/tecnologia, além de ter sido também um dos poucos que teorizaram sobre esse assunto no Brasil (seu livro/tese A Holarquia do Pensamento Artístico é hoje um clássico na área). Esteve à frente de alguns dos mais importantes eventos na área de arte-comunicação

ATIVIDADES EM ARTES
1988 - São Paulo SP e Pittsburgh (Estados Unidos) - Intercities - evento de telecomunicação entre a Carnegie-Mellon University e o MIS - transmissão de imagens e sons via SSTV - organização e participação de Paulo Laurentiz e Artur Matuck, em São Paulo, e de Bruce Breland, em Pittsburgh
1989/1990 - Campinas SP e Paris (França) - City Portraits - evento entre a Unicamp e a Universidade de Paris I - transmissão artística de imagens via fac-símile - coordenação e participação do núcleo de Campinas e curadoria de Karen O'Rourke, em Paris, exposição na Galerie Donguy
1989 - Campinas e São Paulo SP - Faxarte I - evento de telecomunicação entre o IA/Unicamp e a ECA/USP - transmissão artística de imagens via fac-símile - organização e participação de Paulo Laurentiz e Artur Matuck
1990 - Campinas SP, Pittsburgh e Chicago (Estados Unidos) - Earthday 90 Global Telematic Network & Impromptu - transmissão fax e SSTV - contato via slow-scan e fax entre Viena, Lisboa, Campinas, São Paulo, Boston, Baltimore, Pittsburgh, Chicago, Vancouver e Los Angeles - organização e participação Paulo Laurentiz, Bruce Breland, Carlos Fadon e Eduardo Kac
1990 - Campinas SP e Paris (França) - L'oeuvre du Louvre - invasões poéticas - trabalho unidirecional da Unicamp para o Museu do Louvre - transmissão artística de imagens via fac-símile - organização e participação
1990/91 - Campinas SP e Kyoto (Japão) - No Time/art exchange - transmissão de imagem e som via modem e fax teletransmissão artística entre o IA/Unicamp e o College of Arts of Kyoto - doze horas de evento entre Brasil e Japão na passagem do ano. Imagem e Música - coordenação e participação.



                      Paulo Laurentiz, quatro quadros "sem título" transmissão slow-scan TV, 1986.












  Arte- fax, a proposta era invadir o museu do Louvre, na França, por fax.

sábado, 26 de abril de 2014

Paulo Brusck




Paulo Brusck



Paulo Bruscky nasceu em Recife, em 1949, onde vive e trabalha. Artista, ativista e renomado arquivista, Bruscky trabalha com diversas mídias, que incluem desenhos, performances, happenings, copy art e fax-art, arte postal, intervenções urbanas, fotografia, filmes, poesia visual, experimentações sonoras e intervenções em jornais, entre outras experiências. Sempre testando e estendendo os limites da prática artística, se mantém consistentemente à margem do mercado, promovendo a circulação de arte fora dos circuitos institucionais e desenvolvendo trabalhos, em muitos casos, efêmeros. Apresenta sua primeira exposição em 1970, na Galeria da Empetur de Recife, e a partir dessa data começa a trabalhar em colaboração com Daniel Santiago pelas próximas duas décadas. Seu trabalho desenvolve-se, em grande parte, no espaço público, onde propõe diversas ações, a maioria das quais com participação do público. Em 1973 ingressa no Movimento Internacional de Arte Postal e, desde então, além de entrar em contacto com artistas internacionais do Fluxus, entre outros, participa de uma infinidade de exposições de arte postal em todo o mundo. Em 1974 organiza Nadaísmo e, em 1975, a Primeira Exposição Internacional de Arte Postal, em Recife, que teve muitas outras edições posteriores. Sua  produção em Super 8, vídeo e rádio também está incluída em inúmeros festivais e eventos internacionais, inclusive aqueles que o próprio Bruscky organiza International Video Art I e Internacional Ra(u)dio Arte Show II, Recife, 1979. Também publica livros e é um forte defensor de mostras de livros de artistas, que é regularmente convidado e que ele também cura. Entre outros, participaram Libres d'artiste / Artistas' Livros, do Centro de Documentação Atual D'Arte, Barcelona, 1980, e Bookworks 82, Fundação de Arte de hoje, Philadelphia, 1982. Recife, em 1981, organizou a Exposição Internacional de Poemas em Out-Door Visuais - ART-porta, um evento que contou com o apoio da Cidade do Recife, que consistiu na instalação de cento e oitenta cartazes por toda a cidade com projetos artistas de vinte e cinco países, incluindo a Christo e Regina Vater, entre outros. Em 1981 ele recebeu o Guggenheim Fellowship por um ano e vive em Nova York. Nesse mesmo ano ele foi convidado a participar na XVI Bienal Internacional de São Paulo, onde mais uma vez em 1989 e 2004, com uma sala especial que reconstrói seu rico ateliê. Em 1984 e em 2009 ele foi convidado para a Bienal de Havana, Cuba. Entre suas exposições, na última década, incluem, entre outras: Bienal Brasil Século XX, Fundação Bienal de São Paulo (1994); Arte Conceitual e Conceitualismos: 70 anos não acervo MAC / USP, Galeria de Arte do Sesi, São Paulo (2000), Anos 70: trajetória, Itaú Cultural, São Paulo (2001); 27 Panorama Atual de Arte Brasileira, Museu de Arte Moderna de São Paulo (2001). Em 2005 ele organizou a exposição Paulo Bruscky: Projetos e Propostas, Galeria Ibero Camargo, Porto Alegre (2005), e em 2006 publicou o livro Paulo Bruscky: Arte Arquivo e Utopia, Cristina Freire, seguidas pela exposição antológica curadoria de Paulo Freire com Bruscky: Ars brevis, Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (2007).












VT experimental no qual o artista, usando o eletroencefalógrafo, propõe um trabalho gráfico direto do cérebro para o papel sem usar intermediários (mãos, pés, etc.).






 









Entrevista com Paulo Bruscky*

Por Fernanda Lustosa

Quando se fala em Paulo Bruscky, não há como não pensar nas artes postal e xerográfica. Pioneiro no Brasil nessa vertente, foi talvez o artista mais atuante junto ao Fluxus, movimento que discutiu a arte conceitual em suas manifestações mais diversas e afastadas do sistema de arte. Autodidata, como ele mesmo se define, ganhou a Bolsa Guggenheim de Artes Visuais e desenvolveu pesquisas em Nova Iorque e Amsterdã. Organizou a1ª Exposição Internacional de Arte Postal, no Recife, em 1975, e enfrentou a censura na ditadura militar até que a arte correio pudesse se estabelecer novamente. Com um rico e vasto trabalho,o artista, que usa diversos recursos e que lançou a pergunta “O que é a arte? Pra que serve?”, diz afinal não saber responder, mas mostra que, para ele, arte e vida são uma só.

DASARTES: O senhor é um dos protagonistas da arte postal no Brasil. Como se deu isso?

PAULO BRUSCKY: Desde que eu publiquei, na década de 1960, o poema-processo dentro do movimento, a arte correio já tinha uma ligação com a América Latina. Depois, recebi uma corrente de Roberto Reis sobre o Fluxo, na antiga Alemanha oriental no início dos anos1970, e entrei no circuito. Foi extraordinário, uma coisa importantíssima na minha vida. A gente trabalhava em rede; já era uma espécie de internet antes da internet. Eu, aqui no Recife,sabia o que acontecia no mundo e vice-versa, no prazo de uma semana, que naquela época era o tempo que levava para uma correspondência ir ou retornar. A arte correio foi o telegrama, o telex que eu usei em 1973, foi o fax, que para mim é genial – a transmissão em tempo real, a questão da desmaterialização e rematerialização da obra de arte. E essa experiência no Brasil foi feita por mim e Roberto Sandoval. Eu do Recife; Roberto Sandoval de São Paulo, em 1980, tudo inclusive registrado. Até que chegou a internet. Ela, para mim, é a consequência lógica;não foi nenhuma novidade.

DASARTES: O seu trabalho lida com diversas linguagens experimentais na arte. Passa pela exploração de meios reprodutivos (xeroperformance), trabalhos no espaço público e seu ateliê-arquivo, só para citar alguns casos.Ou seja, há um permanente questionamento sobre a idéia e os limites da arte.Como o senhor pensa tais questões tanto no seu trabalho atual quanto no cenário contemporâneo hoje?


PAULO BRUSCKY: Eu acho que arte sempre foi uma forma. Primeiro, eu me deseduquei muito cedo da utilidade da idéia, que é uma forma mais de ver do que do fazer. Depois, eu comecei a trabalhar coma arte conceitual, com a instalação, a performance e diversas mídias. Eu não tenho uma temática. Trabalho com uma frente muito ampla, nunca tive uma só linha de trabalho. Minha formação é desenhista. Com 20 anos, ganhei o 1º prêmio de desenho no Salão de Pernambuco e antes já tinha ganhado vários prêmios com 16, 17 anos. Então você vai dominando uma técnica e passa a buscar outros horizontes, acho que isso é conseqüência normal do artista. É feito um sapateiro, como qualquer profissão que você vai dominando, buscando novas formas. Agora, para mim, a arte está em todo canto, na forma de vermos as coisas. O artista tem a utopia e existe para mostrar isso porque, infelizmente, as pessoas não vêem mesmo.

DASARTES: Em meio às diferentes reações e críticas que o senhor testemunhou em relação ao seu trabalho, houve alguma que destacaria?

PAULO BRUSCKY: Não. A minha maior gratificação é esse contato pelo correio, essa troca de idéia, de conceito. Foram criados novos espaços, porque qualquer lugar era espaço expositivo. A crítica, as instituições e a imprensa, com raras exceções, passaram à margem, e isso foi muito bom, foi uma coisa muito da minha geração. A própria crítica não entendeu o que fazíamos e fomos até, de certa forma,levados a teorizar sobre nosso próprio trabalho. No entanto, a respeito de reações, eu nunca analisei qualquer posição crítica sobre o meu trabalho. Se há alguma sugestão legal, eu incorporo. Se não, não me abala. Sempre fui criticado, sempre vivi à margem, então me acostumei com a ausência e com agressões da crítica e por parte da imprensa e do público em geral, apesar de achar que o público participava muito do que eu fazia.

DASARTES: Fale um pouco sobre a sua recente exposição no Parque Lage (ENTREIMAGENS, realizada de 12 de novembro de 2010 a 13 de março de 2011, no Rio de Janeiro), na qual foi feita um interessante recorte de seu trabalho em torno da poesia, inclusive em diálogo com o curador Adolfo Montejo Navas, também poeta.

PAULO BRUSCKY: Para mim foi importante. Em 2002, eu havia feito uma instalação no Rio de Janeiro que não teve muita repercussão, apesar de eu ter achado tudo genial. Foi quando eu conheci o Adolfo, que havia participado de um debate. Foi legal poder expor no Parque Lage, porque pude mostrar meu trabalho de uma forma mais ampla ao público do Rio, à própria imprensa e à crítica. A exposição também vem em bom tempo, já que neste ano sai um livro que há cinco anos vem sendo preparado pelo Adolfo sobre minha obra e a minha trajetória, chamado Poiesis, que costura essa parte da poesia em todo o meu trabalho. Como é um livro feito por um artista, faz uma análise muito profunda da minha obra, da qual uma pequena amostra está nessa exposição no Parque Lage.

DASARTES: Aquela rede de colaboradores nascidas na arte postal ainda cresce hoje? Há algum contato que tenha considerado especial?

PAULO BRUSCKY: Sim, recebo vários convites de pessoas dos anos 1970 e ainda continuo o contato com uma rede muito significativa: León Ferrari, Anna Banana, Bill Gaglione, Klaus Groh, vários artistas.Pela internet também continua, mas eu acho que a internet está sendo inteligentemente muito pouco usada pelos artistas. É uma ferramenta genial, mas os artistas a utilizam como se usassem outro meio qualquer de comunicação impressa, mais para divulgar sua obra do que como um meio mais inteligente para realizar uma obra. Parece que há uma ansiedade por parte dos artistas de querer logo revisar a obra e difundir. Talvez faltem mais pesquisas.

DASARTES: Lembro-me de que o senhor havia sido convidado para lecionar na Universidade Federal de Pernambuco em 2009 e recusou. Porquê?

PAULO BRUSCKY: Grande parte dos artistas que são professores estão mais preocupados com o status de professor e esquecem de ser artistas. E tudo o que você faz tem que ser bem feito. Logo, para ser um professor, tem que ser um bom professor, o que é uma responsabilidade muito grande. Uma vida já é muito e você não pode ocupar duas posições ao mesmo tempo, é uma questão física. Portanto, você tem que definir o que quer ser. Eu, por exemplo, preferi por muito tempo na minha vida ser funcionário público. Sabia que minha obra era difícil, que não vendia, e foi amaneira que encontrei de sobreviver. Hoje me aposentei. Eu agradeço, mas não me interessa ser professor. Não tenho nada contra, mas escolho usar esse tempo escrevendo, organizando minhas idéias e mídias, que foram desenvolvidas há muito tempo e que precisam de um histórico.

DASARTES: Gostaríamos de fazer-lhe a pergunta que o senhor lançou em uma performance de 1978: “O que é arte? Para que serve?”

PAULO BRUSCKY: Não sei, no dia que eu souber eu paro (risos). Eu acho que a questão da arte é uma busca eterna para o artista. Ele está sempre buscando novas formas de se expressar e de dizer algo ao grande público. Há uma frase que diz: “Arte é o que o artista faz”. Mas é uma coisa mais ampla, mais profunda. Vou morrer nessa procura.

*Publicada na edição 15 da D

Ernesto Melo e Castro


  

Biografia
Ernesto Manuel Geraldes de Melo e Castro
(Covilhã, Portugal 1932)

Poeta e ensaísta. Diplomado em engenharia têxtil pelo Instituto Tecnológico de Bradford, Inglaterra, em 1956. Doutor em letras pela USP, em 1998. No Brasil, ministrou cursos de graduação e pós-graduação de literatura portuguesa, brasileira e africana, na USP, UFMG e UFRN. Na PUC/SP e na UNI/BH, ministrou cursos de pós-graduação de infopoesia e cibercultura. No Itaú Cultural, São Paulo, ministrou um curso sobre as origens da visualidade ocidental e a infopoesia.

IMPORTÂNCIA DE SUA OBRA

Praticante e teórico da poesia experimental portuguesa dos anos 60, introdutor em Portugal da poesia concreta (IDEOGRAMAS, 1961), é considerado pioneiro da videopoesia. Entre 1985 e 1989, desenvolveu na Universidade Aberta de Lisboa um projeto de criação de videopoesia denominado SIGNAGENS. Nesse projeto, Melo e Castro teve a idéia pioneira de lançar mão do gerador de caracteres para produzir poemas animados, pensados especificamente para veiculação na televisão. Na verdade, já em 1968, Melo e Castro havia realizado um pequeno videopoema de pouco menos de 3 minutos de duração, denominado Roda Lume, que chegou mesmo a ser colocado no ar, no ano seguinte, pela Rádio e Televisão Portuguesa, RTP, num programa de informação literária. Depois, mais exatamente em 1985, quando a Universidade Livre de Lisboa adquiriu um dispositivo completo de geração de caracteres e edição em vídeo, Melo e Castro foi convidado a desenvolver ali um projeto de videopoesia, que acabou por se constituir numa das referências mais importantes da atual poesia que utiliza recursos tecnológicos. Em 1993, realizou o videopoema em cinco partes Sonhos de Geometria, de 30 minutos, publicado em cassete VHS como anexo ao número especial 7/8 de MENU, cadernos de poesias, Cuenca, Espanha.

OBRAS:
·          
Roda Lume consiste num "poema experimental animado", realizado por E. M. de Melo






Roda Lume (1969)
2m 50s
Realizador:  ·  Ernesto de Melo e Castro
“Um impulso em direcção ao uso dos novos meios tecnológicos resultou na produção do meu primeiro videopoema – Roda Lume – a preto e branco, que consistia em formas geométricas animadas e palavras que foram previamente desenhadas à mão. A animação foi feita através da montagem directa na câmara, registando imagem após imagem com um corrector baseado no tempo. Primeiro foi feita um storyboard com a sequência imagética e o respectivo tempo. O som foi acrescentado no final como uma leitura fonética improvisada das imagens visuais. Fui eu que produzi pessoalmente o som.”
[Melo e Castro (S/D), Videopoetry] -
http://www.ociocriativo.com.br/
guests/meloecastro/video.htm
- See more at: http://www.cinept.ubi.pt/pt/filme/8975/Roda+Lume#sthash.60lwisqb.dpuf
http://www.cinept.ubi.pt/pt/filme/8975/Roda+Lume
Ficha técnica
E. M. de Melo e Castro
Infopoesias e Videopoesias, 1985 / 1993
Infopoesia e videopoesia

Descrição
As histórias dos enigmáticos bisontes geômetras de Lascaux, 15.000 a.C. tratados em computador no final do segundo milênio d.C. (infopoesia). Compreende os videopoemas Diazulando, Poética dos Meios, Infografitos, Sonhos de Geometria, Ideovídeo.
·                               Infopoesias e Videopoesias
·                               Poética dos Meios e Arte High Tech
·                               Uma Transpoética 3

E. M. DE MELO E CASTRO
E. M. de Melo e Castro é nome consagrado na poesia visual e experimental, atuante em Portugal e no Brasil onde já publicou uma série considerável de títulos tanto de poemas como de teoria e crítica literárias. Os poemas deste livros foram compostos entre 2003 e 2010, em Lisboa, Porto, Algarve e São Paulo. Edição primorosa, caprichosa, inventiva. Pioneiro no uso do computador nas suas composições poéticas, em infopoemas, E. M. de Melo e Castro ainda consegue surpreender com sua inventividade.

De
e.m.de melo e castro
Neo-Poemas-Pagãos
São Paulo: Annablume, 2010.  156 p. ilus.
(Coleção Demõnio Negro,).
Edição de 200 exs. numerados capa dura  com tecdo alemão

Escolhemos duas peças pra dar ciência da variedade de sua criação, uma em que deforma e monta um poema visual a partir de um texto mallarmáico, com tipos 'tipográficos" variados que são distorcido pelo aplicativo computacional para chegar a uma contradição notável: transformar em imagem o texto para dar-lhe o sendo. O visual é que efetivamente amplia a significação semântica do discurso. Em outras palavras, o texto discursivo, com as intervenções "tipográficas" em sua arquitextura, se concretiza ou coisifica na intervenção digitalizada.


O segundo trabalho é um "soneto" nada convencional, sem desprezar as rimas...
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The cryptic eye is an approach to infopoetry. / Infopoety is made with the use of the computer thus adding the virtual reality of the poetic images to the virtual, dematerialized of the synthetic imagery and writing produced by the computer. / Infopoetry is metavirtual, bringing with it the difficult reading of the non obvious." E. M. DE MELO E CASTRO, in  "FINITOS   MAIS INFINITOS"  (Lisboa: Hugin Editores, 1996). De onde extraímos o seguinte exemplo
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Comentário de Jayro Luna
(Doutor em Literatura Portuguesa, USP)

Em Portugal, a poesia concreta também prosperou, e embora seja tributária inicialmente dos experimentos inovadores do grupo Noigandres, logo tratou de seguir caminho próprio, associando características com a herança cultural e literária portuguesa (Barroco, Futurismo, Surrealismo) que acabaram por configurar não só um paideuma caracteristico, mas elementos estruturais diferentes da produção brasileira, dando como resultado uma poesia concreta singular.

Tal fato se deve em parte ao desenvolvimento da chamada poesia experimental portuguesa, que já nos primeiros anos da década de 60 encontrava uma preocupação formal que aEbriria o campo para a simbiose com o Concretismo vindo de além mar.

No caso da utilização de elementos estatístico-probabilisticos na poesia concreta portuguesa, tomemos como exemplo um poema de E.M. de MeIo e Castro, "Soneto Soma 14X", do livro Poligonia do Soneto,1963.
É um soneto que se insere naqueles que farão a crítica do soneto como forma poética.
O soneto "Soma 14X" é composto de números e, nesse sentido, conhecendo algumas da regras compositivas do soneto, e observando, que no caso deste poema, a soma dos números de um verso devam totalizar 14, é possível subtrair-se alguns versos c pedir a alguém que complete os versos faltantes, num raro exercício de análise matemática da forma.
O soneto em questão, apresenta rimas numéricas, assim, no caso da reconstituição é possível, sabendo-se com qual determinado verso rima, já saber de antemão qual o último dos cinco números que compõem o verso. Os outros quatro números do verso, resultaram de uma soma baseada no fato do total do verso dar 14, e de que não há um só verso repetido neste soneto. Observe-se ainda, que o último verso deste soneto, o verso "chave de ouro" dá soma 28 (duas vezes 14), como que a querer dizer que é um verso que vale mais do que os outros.
Numericamente, portanto, é possível neste nosso exercício de reconstrução produzir variantes do soneto, mas que funcionalmente, exerceram o mesmo papel desempenhado pelo original de Meio e Castro, que crítica justamente a forma padrão para o fazer poético.
Cabe observar ainda, que se retirássemos não um verso, mas somente um número de cada verso, a possibilidade de reconstrução integral do soneto em relação ao original, seria de 100%

Extraído de LUNA, Jayro.  Caderno de Anotações. Belo Horizonte/São Paulo: Signos/Editora Oporetuno, 2005. p. 74-75



Na visão do autor E. M. DE MELO E DCASTRO:  “Aqui o poema tende, de fato, a ser um objeto que a si próprio se mostra. Estabelece-se assim uma ligação direta com a poesia visual  e concreta, em que a substantivação de todos os seus elementos é total. Melhor: existe uma sintaxe espacial em que os elementos constitutivos do poema se articulam no espaço pelas suas posições relativas na página, como objetos formando um edifício. Por isso através da substantivação e coisificação se passa simultaneamente ao plano estrutural da experiência humana e ao campo visual e objetivo da informação e ainda ao pode sintético das escritas ideogramáticas. Assim num poema concreto, um reduzido número de palavras o até uma só palavra, decomposta nos seus elementos de formação, sílabas, fonemas, letras, pode adquirir uma ressonância sugestiva de tipo sinestésico imediato, muito diferente do que a linguagem descritiva conseguiria alcançar.”
In> MELO E CASTRO, E. M. de. O Próprio Poético.  São Paulo: Quiron, 1973.   p.67

“Padrões de interferência: efeitos cinéticos interativos obtidos por sobreposições sucessivas de elementos sígnicos. A sobreposição de textos como princípio de abstração resultando em imagens não necessariamente verbais (literais) de geometria variável, propondo diferentes possibilidades de leitura: a ilegibilidade como leitura visual-visual. No mesmo passo as interferências podem abrir lapsos de legibilidade literal aleatórios, de sentidos inesperados (?). Signos verbais se potenciam outros.”


“Estamos perante a desleitura nas suas infinitas formas por sobreposição e interferência sígnica, criptovisual e talvez mesmo subliminar, abrindo-se para os transentidos. A ilegibilidade que aqui se escreve não é efetivamente nem do texto nem do leitor, mas sim de ambos, interativando a opaci(vi)dade de um com a negolucidez do outro. Não existe a ilegibilidade do sentido porque ele sempre se lê em todos os sinais (não há sinais inocentes) mas sim a constante variabilidade e oscilação entre sentido literal, sentido metafórico, sentido visual-visual e transentido, tendendo para o tanszero da mensagem: transliteralidade da desleitura, para o próprio poético.”



“Os poemas resultam portanto da interação de três elementos: o indivíduo operador, o hardware e o software, interação sem a qual estes poemas não seriam possíveis. Se a noção convencional de autor é assim relativizada, deve salientar-se que é do autor que depende a condução e intencionalidade do processo criativo, tal como a aceitação ou recusa crítica dos resultados obtidos.”

A tentação da pergunta — mas afinal onde fica o eu do poeta? deve responder-se — fica onde sempre esteve, isto e, no eu do poeta. Mas agora esse eu se encontra potenciado pela sinergia com a máquina, o que vai marcar não só a dinâmica do processo criativo como as características estéticas das imagens assim obtidas.”

E. M. DE MELO E CASTRO
   em ALGORITMOS infopoemas 1998
São Paulo: Musa Editora, 1998. 




CASTRO, E. M. de Melo e.  O caminho do leve.  The way to lightnessPorto: Museu Serralves – Museu de Arte Contemporânea, 2006. Catálogo da exposição: 10 de Fevereiro de a 30 de Abril de 2006.  Ilus col.  22x31 cm. 
Fragmentos de uma entrevista concedida por E. M. de Melo e Castro, em maio de 2001, a Jorge Luiz Antonio que está no Catálogo às páginas 219 a 228, e na versão em inglês de 229 a 237. 
“Mas, de fato, a minha atitude criativa, minha atitude mental, emocional, se quiserem, é exatamente a mesma: eu tanto escrevo um soneto como faço um videopoema, ou faço, digamos um storyboard para um videopoema: é uma criação, se quisermos dizer, textual que, para o meu sistema de produção, não tem diferenças. Evidentemente que os meios de trabalho são diferentes, mas eu me refiro à atitude mesma.”  (...) Eu insisto na palavra “poema”, justamente porque todo este processo, para mim, é um complexo processo de poiésis, no sentido grego mais rigoroso, isto é, o de fazer aquilo que ainda não foi feito.”

(...)”Não abdico da palavra “arte”, não abdico da palavra “artista”, nem abdico da palavra “poema”. Mas, simplesmente, talvez se possa dizer, um tanto ironicamente, que eu seja um artista “turbinado” (...)” (,,,) “Mas, entretanto, é necessário redefinir a palavra “arte”, redefinir a palavra “artista”, redefinir a palavra “poema” porque hoje o que está em jogo nessa produção dita criativa ou inventiva é realimente uma provocação à própria fruição estética.” p. 219
“Bom, a passagem da poesia visual gráfica, jogada no papel, para a poesia visual que só existe nas telas das máquinas informáticas é uma passagem, digamos, drástica, porque se passa do peso do peso do átomo do papel e do átomo da tinta e até do peso dos instrumentos escreventes, digamos assim, para a virtualidade dos bits e a virtualidade dos pixels, ou seja, passamos da matéria para a energia e isso dá uma transformação radical, de fato.”  (...) “E se me perguntar especificamente quais são os elementos gramáticos, digamos assim, que são diferentes do trabalho de Mallarmé e mesmo da poesia concreta ortodoxa, isto é, quais os elementos de diferenciação da infopoesia, da videopoesia ou da holopoesia, direi que agora estamos a trabalhar com o movimento e a própria transformação das formas, e por isso dos significados, em dimensões que podem ser até fractais.” (...) “Como o Jorge Luiz Antonio se referiu, num de seus textos, estamos talvez perante um gênero novo. E deverá ou não deverá continuar a chamar-se poesia? Bem, eu acho que sim (...)”  p. 220.


Uma das peças desdobráveis contidas na caixa ”OBJECTA” (1061-1968) com “poemas cinéticos” / “kinetic poems”.








A poesia digital de Ernesto de M. e Castro

A poesia é a vida de Ernesto de Melo e Castro, poeta, pesquisador e professor português, que recentemente esteve na Biblioteca Municipal de Sorocaba ministrando uma palestra na Semana Internacional de Literatura, evento organizado pela Academia Sorocabana de Letras.



Com certeza tal iniciativa é louvável, digna de apoio e participação. Não apenas este grande nome da poesia integrou a programação, outros igualmente importantes e essenciais dentro da contribuição cultural oferecida, seja para Sorocaba, o país ou o mundo, estiveram presentes.

Falando sobre infopoesia - o objetivo desta postagem -, é claro que foi um prazer e uma oportunidade de conhecimento assistir a palestra de Ernesto de Melo e Castro, zeloso, dedicado, simpático, apaixonado pelo que faz. Um homem de 78 anos que continua experimentando a poesia em suas manifestações. 


“Quando olho para trás vejo que toda minha vida foi conduzida sempre pela ideia da inovação, da diferença e do futuro”, disse. Só para lembrar: ele foi pioneiro na vídeopoesia e responsável por introduzir a poesia concreta no país de origem, Portugal. Foi teórico e praticante da poesia experimental portuguesa nos anos 60. Na década seguinte, com seu primeiro computador, escreveu seu nome na história da vídeopoesia mundial. Como professor em atividade, Ernesto de Melo e Castro não tem limites para sua criação.

“São as coisas que desconhecemos que irão definir nosso futuro”, afirmou sabiamente. Com certeza baseado numa vivência que comprova tal colocação. O computador para nós, hoje, é tão comum quanto uma caneta. Quando jovem, não, o poeta português deparou-se com uma invenção extraordinária, desconhecida. E foi ela que determinou seu futuro. “Os fatores que determinam nosso futuro são improváveis”: frase instigante para filosofarmos.

Ernesto de Melo e Castro também falou sobre a discussão em torno do fim do livro. Disparou: “Essa discussão é uma bobagem. Por muitos séculos ele vai ser insubstituível”, prevê. “As novas tecnologias acrescentam, não eliminam as já existentes”.  Lembrou de Gutemberg: “ele foi genial, reuniu as condições técnicas para imprimir em papel”. E acrescenta: “ele morreu pobre e endividado, temos uma dívida com ele”. Alguém discorda?

Sobre a vídeopoesia e a infopoesia Ernesto foi questionado: “o EU do poeta, onde fica”? E respondeu: “Fica no lugar onde exatamente sempre esteve: dentro do Eu do poeta”!

Na palestra ele falou um pouco do origem do uso do computador para criar poesia. E fez referência à poesia concreta. “A poesia concreta é o psico-estético da atual poesia digital, ou seja, da infopoesia e da videopoesia”.


Ernesto de Melo e Castro explicou que “a poesia concreta lê-se ideogramaticamente, de uma só vez, instantaneamente, é um signo total, para ser vista e apreciada num todo”. Ideograma: conjunto completo de signos que entre si se articulam significativamente. Só depois vêm as interpretações possíveis.

Mais uma vez o encontro com o poeta português foi uma oportunidade de contato com o conhecimento e a sensibilidade, mesmo que a linguagem poética usada por ele não nos seja comum ou reflita nossa produção. Entretanto, sem dúvida alguma, coopera para que sejamos poetas mais ousados, intuitivos, abertos ao novo e entendermos que há diversas formas de poetizar.

http://jornalipanema.com.br/blogs/andrea-freire/2048-a-poesia-digital-de-ernesto-de-m-e-castro