Biografia
Ernesto Manuel Geraldes de Melo e Castro
(Covilhã, Portugal 1932)
Poeta e ensaísta. Diplomado em engenharia têxtil
pelo Instituto Tecnológico de Bradford, Inglaterra, em 1956. Doutor em letras
pela USP, em 1998. No Brasil, ministrou cursos de graduação e pós-graduação de
literatura portuguesa, brasileira e africana, na USP, UFMG e UFRN. Na PUC/SP e
na UNI/BH, ministrou cursos de pós-graduação de infopoesia e cibercultura. No
Itaú Cultural, São Paulo, ministrou um curso sobre as origens da visualidade
ocidental e a infopoesia.
IMPORTÂNCIA DE SUA OBRA
Praticante e teórico da poesia experimental
portuguesa dos anos 60, introdutor em Portugal da poesia concreta (IDEOGRAMAS,
1961), é considerado pioneiro da videopoesia. Entre 1985 e 1989, desenvolveu na
Universidade Aberta de Lisboa um projeto de criação de videopoesia denominado
SIGNAGENS. Nesse projeto, Melo e Castro teve a idéia pioneira de lançar mão do
gerador de caracteres para produzir poemas animados, pensados especificamente
para veiculação na televisão. Na verdade, já em 1968, Melo e Castro havia realizado
um pequeno videopoema de pouco menos de 3 minutos de duração, denominado Roda
Lume, que chegou mesmo a ser colocado no ar, no ano seguinte, pela Rádio e
Televisão Portuguesa, RTP, num programa de informação literária. Depois, mais
exatamente em 1985, quando a Universidade Livre de Lisboa adquiriu um
dispositivo completo de geração de caracteres e edição em vídeo, Melo e Castro
foi convidado a desenvolver ali um projeto de videopoesia, que acabou por se
constituir numa das referências mais importantes da atual poesia que utiliza
recursos tecnológicos. Em 1993, realizou o videopoema em cinco partes Sonhos de
Geometria, de 30 minutos, publicado em cassete VHS como anexo ao número
especial 7/8 de MENU, cadernos de
poesias, Cuenca, Espanha.
OBRAS:
·
Roda Lume consiste num "poema experimental animado", realizado por
E. M. de Melo
Roda Lume (1969)
2m 50s
“Um impulso em direcção ao uso dos
novos meios tecnológicos resultou na produção do meu primeiro videopoema – Roda
Lume – a preto e branco, que consistia em formas geométricas animadas e
palavras que foram previamente desenhadas à mão. A animação foi feita através
da montagem directa na câmara, registando imagem após imagem com um corrector
baseado no tempo. Primeiro foi feita um storyboard com a sequência imagética e
o respectivo tempo. O som foi acrescentado no final como uma leitura fonética
improvisada das imagens visuais. Fui eu que produzi pessoalmente o som.”
[Melo e Castro (S/D), Videopoetry] -
http://www.ociocriativo.com.br/
guests/meloecastro/video.htm
- See more at:
http://www.cinept.ubi.pt/pt/filme/8975/Roda+Lume#sthash.60lwisqb.dpuf
http://www.cinept.ubi.pt/pt/filme/8975/Roda+Lume
Ficha técnica
Descrição
As histórias
dos enigmáticos bisontes geômetras de Lascaux, 15.000 a.C. tratados em
computador no final do segundo milênio d.C. (infopoesia). Compreende os
videopoemas Diazulando, Poética dos Meios, Infografitos, Sonhos de Geometria,
Ideovídeo.
E. M. DE MELO E CASTRO
E. M. de Melo e Castro é nome
consagrado na poesia visual e experimental, atuante em Portugal e no Brasil
onde já publicou uma série considerável de títulos tanto de poemas como de
teoria e crítica literárias. Os poemas deste livros foram compostos entre 2003
e 2010, em Lisboa, Porto, Algarve e São Paulo. Edição primorosa, caprichosa,
inventiva. Pioneiro no uso do computador nas suas composições poéticas, em
infopoemas, E. M. de Melo e Castro ainda consegue surpreender com sua
inventividade.
De
e.m.de
melo e castro
Neo-Poemas-Pagãos
São Paulo: Annablume, 2010. 156 p. ilus.
(Coleção Demõnio Negro,).
Edição de 200 exs. numerados capa dura com tecdo alemão
Escolhemos
duas peças pra dar ciência da variedade de sua criação, uma em que deforma e
monta um poema visual a partir de um texto mallarmáico, com tipos
'tipográficos" variados que são distorcido pelo aplicativo computacional
para chegar a uma contradição notável: transformar em imagem o texto para
dar-lhe o sendo. O visual é que efetivamente amplia a significação semântica do
discurso. Em outras palavras, o texto discursivo, com as intervenções
"tipográficas" em sua arquitextura, se concretiza ou coisifica na
intervenção digitalizada.
O segundo
trabalho é um "soneto" nada convencional, sem desprezar as rimas...
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The cryptic eye is an
approach to infopoetry. / Infopoety is made with the use of the computer thus
adding the virtual reality of the poetic images to the virtual, dematerialized
of the synthetic imagery and writing produced by the computer. / Infopoetry is
metavirtual, bringing with it the difficult reading of the non obvious." E. M. DE MELO E CASTRO, in "FINITOS MAIS
INFINITOS" (Lisboa: Hugin Editores, 1996). De onde extraímos o
seguinte exemplo
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Comentário de Jayro Luna
(Doutor em Literatura Portuguesa, USP)
Em Portugal, a poesia concreta também prosperou, e
embora seja tributária inicialmente dos experimentos inovadores do grupo Noigandres, logo
tratou de seguir caminho próprio, associando características com a herança
cultural e literária portuguesa (Barroco, Futurismo, Surrealismo) que acabaram
por configurar não só um paideuma caracteristico, mas elementos estruturais
diferentes da produção brasileira, dando como resultado uma poesia concreta
singular.
Tal fato se deve em parte ao desenvolvimento da
chamada poesia experimental portuguesa, que já nos primeiros anos da década de
60 encontrava uma preocupação formal que aEbriria o campo para a simbiose com o
Concretismo vindo de além mar.
No caso da utilização de elementos
estatístico-probabilisticos na poesia concreta portuguesa, tomemos como exemplo
um poema de E.M. de MeIo e Castro, "Soneto Soma 14X", do livro Poligonia
do Soneto,1963.
É um soneto que se insere naqueles que farão a
crítica do soneto como forma poética.
O soneto "Soma 14X" é composto de números
e, nesse sentido, conhecendo algumas da regras compositivas do soneto, e
observando, que no caso deste poema, a soma dos números de um verso devam
totalizar 14, é possível subtrair-se alguns versos c pedir a alguém que
complete os versos faltantes, num raro exercício de análise matemática da
forma.
O soneto em questão, apresenta rimas numéricas,
assim, no caso da reconstituição é possível, sabendo-se com qual determinado
verso rima, já saber de antemão qual o último dos cinco números que compõem o
verso. Os outros quatro números do verso, resultaram de uma soma baseada no
fato do total do verso dar 14, e de que não há um só verso repetido neste
soneto. Observe-se ainda, que o último verso deste soneto, o verso "chave
de ouro" dá soma 28 (duas vezes 14), como que a querer dizer que é um
verso que vale mais do que os outros.
Numericamente, portanto, é possível neste nosso
exercício de reconstrução produzir variantes do soneto, mas que funcionalmente,
exerceram o mesmo papel desempenhado pelo original de Meio e Castro, que
crítica justamente a forma padrão para o fazer poético.
Cabe observar ainda, que se retirássemos não um
verso, mas somente um número de cada verso, a possibilidade de reconstrução
integral do soneto em relação ao original, seria de 100%
Extraído de LUNA, Jayro. Caderno de
Anotações. Belo Horizonte/São Paulo: Signos/Editora Oporetuno, 2005. p.
74-75
Na visão do autor E. M. DE MELO E DCASTRO:
“Aqui o poema tende, de fato, a ser um objeto que a si próprio se
mostra. Estabelece-se assim uma ligação direta com a poesia visual e
concreta, em que a substantivação de todos os seus elementos é total. Melhor:
existe uma sintaxe espacial em que os elementos constitutivos do poema se
articulam no espaço pelas suas posições relativas na página, como objetos
formando um edifício. Por isso através da substantivação e coisificação se
passa simultaneamente ao plano estrutural da experiência humana e ao campo visual
e objetivo da informação e ainda ao pode sintético das escritas ideogramáticas.
Assim num poema concreto, um reduzido número de palavras o até uma só palavra,
decomposta nos seus elementos de formação, sílabas, fonemas, letras, pode
adquirir uma ressonância sugestiva de tipo sinestésico imediato, muito
diferente do que a linguagem descritiva conseguiria alcançar.”
In> MELO E CASTRO, E. M. de. O Próprio
Poético. São Paulo: Quiron, 1973. p.67
“Padrões de interferência: efeitos
cinéticos interativos obtidos por sobreposições sucessivas de elementos
sígnicos. A sobreposição de textos como princípio de abstração resultando em
imagens não necessariamente verbais (literais) de geometria variável, propondo
diferentes possibilidades de leitura: a ilegibilidade como leitura
visual-visual. No mesmo passo as interferências podem abrir lapsos de
legibilidade literal aleatórios, de sentidos inesperados (?). Signos verbais se
potenciam outros.”
“Estamos perante a desleitura nas suas infinitas
formas por sobreposição e interferência sígnica, criptovisual e talvez mesmo
subliminar, abrindo-se para os transentidos. A ilegibilidade que aqui se
escreve não é efetivamente nem do texto nem do leitor, mas sim de ambos,
interativando a opaci(vi)dade de um com a negolucidez do outro. Não existe a
ilegibilidade do sentido porque ele sempre se lê em todos os sinais (não há sinais
inocentes) mas sim a constante variabilidade e oscilação entre sentido
literal, sentido metafórico, sentido visual-visual e transentido, tendendo
para o tanszero da mensagem: transliteralidade da desleitura, para o próprio
poético.”
“Os poemas resultam portanto da interação de três
elementos: o indivíduo operador, o hardware e o software, interação sem a qual
estes poemas não seriam possíveis. Se a noção convencional de autor é assim
relativizada, deve salientar-se que é do autor que depende a condução e
intencionalidade do processo criativo, tal como a aceitação ou recusa crítica
dos resultados obtidos.”
A tentação da pergunta — mas afinal onde fica o eu
do poeta? deve responder-se — fica onde sempre esteve, isto e, no eu do poeta. Mas
agora esse eu se encontra potenciado pela sinergia com a máquina, o que vai
marcar não só a dinâmica do processo criativo como as características estéticas
das imagens assim obtidas.”
E. M. DE MELO E CASTRO
em ALGORITMOS infopoemas 1998
São Paulo: Musa Editora, 1998.
CASTRO, E. M. de Melo e. O caminho do leve. The way to lightness. Porto: Museu Serralves – Museu de
Arte Contemporânea, 2006. Catálogo da exposição: 10 de Fevereiro de a 30 de
Abril de 2006. Ilus col. 22x31 cm.
Fragmentos de uma entrevista
concedida por E. M. de Melo e Castro, em maio de 2001, a Jorge Luiz Antonio
que está no Catálogo às páginas 219
a 228, e na versão em inglês de 229 a 237.
“Mas, de fato, a minha
atitude criativa, minha atitude mental, emocional, se quiserem, é exatamente a
mesma: eu tanto escrevo um soneto como faço um videopoema, ou faço, digamos um
storyboard para um videopoema: é uma criação, se quisermos dizer, textual que,
para o meu sistema de produção, não tem diferenças. Evidentemente que os meios
de trabalho são diferentes, mas eu me refiro à atitude mesma.” (...) Eu
insisto na palavra “poema”, justamente porque todo este processo, para mim, é
um complexo processo de poiésis, no sentido grego mais rigoroso, isto é, o de
fazer aquilo que ainda não foi feito.”
(...)”Não abdico da palavra “arte”, não abdico da palavra “artista”, nem abdico
da palavra “poema”. Mas, simplesmente, talvez se possa dizer, um tanto
ironicamente, que eu seja um artista “turbinado” (...)” (,,,) “Mas, entretanto,
é necessário redefinir a palavra “arte”, redefinir a palavra “artista”,
redefinir a palavra “poema” porque hoje o que está em jogo nessa produção dita
criativa ou inventiva é realimente uma provocação à própria fruição estética.”
p. 219
“Bom, a passagem da poesia visual gráfica, jogada no papel, para a
poesia visual que só existe nas telas das máquinas informáticas é uma passagem,
digamos, drástica, porque se passa do peso do peso do átomo do papel e do átomo
da tinta e até do peso dos instrumentos escreventes, digamos assim, para a
virtualidade dos bits e a virtualidade dos pixels, ou seja, passamos da matéria
para a energia e isso dá uma transformação radical, de fato.” (...) “E se
me perguntar especificamente quais são os elementos gramáticos, digamos assim,
que são diferentes do trabalho de Mallarmé e mesmo da poesia concreta ortodoxa,
isto é, quais os elementos de diferenciação da infopoesia, da videopoesia ou da
holopoesia, direi que agora estamos a trabalhar com o movimento e a própria
transformação das formas, e por isso dos significados, em dimensões que podem
ser até fractais.” (...) “Como o Jorge Luiz Antonio se referiu, num de seus
textos, estamos talvez perante um gênero novo. E deverá ou não deverá continuar
a chamar-se poesia? Bem, eu acho que sim (...)” p. 220.
Uma das peças
desdobráveis contidas na caixa ”OBJECTA” (1061-1968) com “poemas cinéticos” /
“kinetic poems”.
A poesia digital de Ernesto de M. e Castro
A poesia é a vida de Ernesto de Melo e Castro, poeta, pesquisador e
professor português, que recentemente esteve na Biblioteca Municipal de
Sorocaba ministrando uma palestra na Semana Internacional de Literatura, evento
organizado pela Academia Sorocabana de Letras.
Com certeza tal iniciativa é louvável, digna de apoio e participação.
Não apenas este grande nome da poesia integrou a programação, outros igualmente
importantes e essenciais dentro da contribuição cultural oferecida, seja para
Sorocaba, o país ou o mundo, estiveram presentes.
Falando sobre infopoesia - o objetivo desta postagem -, é claro que foi
um prazer e uma oportunidade de conhecimento assistir a palestra de Ernesto de
Melo e Castro, zeloso, dedicado, simpático, apaixonado pelo que faz. Um homem
de 78 anos que continua experimentando a poesia em suas manifestações.
Quando olho para trás vejo que toda minha vida foi conduzida sempre
pela ideia da inovação, da diferença e do futuro, disse. Só para lembrar: ele
foi pioneiro na vídeopoesia e responsável por introduzir a poesia concreta no
país de origem, Portugal. Foi teórico e praticante da poesia experimental
portuguesa nos anos 60. Na década seguinte, com seu primeiro computador,
escreveu seu nome na história da vídeopoesia mundial. Como professor em
atividade, Ernesto de Melo e Castro não tem limites para sua criação.
São as coisas que desconhecemos que irão definir nosso futuro, afirmou
sabiamente. Com certeza baseado numa vivência que comprova tal colocação. O
computador para nós, hoje, é tão comum quanto uma caneta. Quando jovem, não, o
poeta português deparou-se com uma invenção extraordinária, desconhecida. E foi
ela que determinou seu futuro. Os fatores que determinam nosso futuro são
improváveis: frase instigante para filosofarmos.
Ernesto de Melo e Castro também falou sobre a discussão em torno do fim
do livro. Disparou: Essa discussão é uma bobagem. Por muitos séculos ele vai
ser insubstituível, prevê. As novas tecnologias acrescentam, não eliminam as
já existentes. Lembrou de Gutemberg: ele foi genial, reuniu as
condições técnicas para imprimir em papel. E acrescenta: ele morreu pobre e
endividado, temos uma dívida com ele. Alguém discorda?
Sobre a vídeopoesia e a infopoesia Ernesto foi questionado: o EU do
poeta, onde fica? E respondeu: Fica no lugar onde exatamente sempre esteve:
dentro do Eu do poeta!
Na palestra ele falou um pouco do origem do uso do computador para criar
poesia. E fez referência à poesia concreta. A poesia concreta é o
psico-estético da atual poesia digital, ou seja, da infopoesia e da videopoesia.
Ernesto de Melo e Castro explicou que a poesia concreta lê-se
ideogramaticamente, de uma só vez, instantaneamente, é um signo total, para ser
vista e apreciada num todo. Ideograma: conjunto completo de signos que entre
si se articulam significativamente. Só depois vêm as interpretações possíveis.
Mais uma vez o encontro com o poeta português foi uma oportunidade de
contato com o conhecimento e a sensibilidade, mesmo que a linguagem poética
usada por ele não nos seja comum ou reflita nossa produção. Entretanto, sem
dúvida alguma, coopera para que sejamos poetas mais ousados, intuitivos,
abertos ao novo e entendermos que há diversas formas de poetizar.
http://jornalipanema.com.br/blogs/andrea-freire/2048-a-poesia-digital-de-ernesto-de-m-e-castro