sábado, 26 de abril de 2014

Paulo Brusck




Paulo Brusck



Paulo Bruscky nasceu em Recife, em 1949, onde vive e trabalha. Artista, ativista e renomado arquivista, Bruscky trabalha com diversas mídias, que incluem desenhos, performances, happenings, copy art e fax-art, arte postal, intervenções urbanas, fotografia, filmes, poesia visual, experimentações sonoras e intervenções em jornais, entre outras experiências. Sempre testando e estendendo os limites da prática artística, se mantém consistentemente à margem do mercado, promovendo a circulação de arte fora dos circuitos institucionais e desenvolvendo trabalhos, em muitos casos, efêmeros. Apresenta sua primeira exposição em 1970, na Galeria da Empetur de Recife, e a partir dessa data começa a trabalhar em colaboração com Daniel Santiago pelas próximas duas décadas. Seu trabalho desenvolve-se, em grande parte, no espaço público, onde propõe diversas ações, a maioria das quais com participação do público. Em 1973 ingressa no Movimento Internacional de Arte Postal e, desde então, além de entrar em contacto com artistas internacionais do Fluxus, entre outros, participa de uma infinidade de exposições de arte postal em todo o mundo. Em 1974 organiza Nadaísmo e, em 1975, a Primeira Exposição Internacional de Arte Postal, em Recife, que teve muitas outras edições posteriores. Sua  produção em Super 8, vídeo e rádio também está incluída em inúmeros festivais e eventos internacionais, inclusive aqueles que o próprio Bruscky organiza International Video Art I e Internacional Ra(u)dio Arte Show II, Recife, 1979. Também publica livros e é um forte defensor de mostras de livros de artistas, que é regularmente convidado e que ele também cura. Entre outros, participaram Libres d'artiste / Artistas' Livros, do Centro de Documentação Atual D'Arte, Barcelona, 1980, e Bookworks 82, Fundação de Arte de hoje, Philadelphia, 1982. Recife, em 1981, organizou a Exposição Internacional de Poemas em Out-Door Visuais - ART-porta, um evento que contou com o apoio da Cidade do Recife, que consistiu na instalação de cento e oitenta cartazes por toda a cidade com projetos artistas de vinte e cinco países, incluindo a Christo e Regina Vater, entre outros. Em 1981 ele recebeu o Guggenheim Fellowship por um ano e vive em Nova York. Nesse mesmo ano ele foi convidado a participar na XVI Bienal Internacional de São Paulo, onde mais uma vez em 1989 e 2004, com uma sala especial que reconstrói seu rico ateliê. Em 1984 e em 2009 ele foi convidado para a Bienal de Havana, Cuba. Entre suas exposições, na última década, incluem, entre outras: Bienal Brasil Século XX, Fundação Bienal de São Paulo (1994); Arte Conceitual e Conceitualismos: 70 anos não acervo MAC / USP, Galeria de Arte do Sesi, São Paulo (2000), Anos 70: trajetória, Itaú Cultural, São Paulo (2001); 27 Panorama Atual de Arte Brasileira, Museu de Arte Moderna de São Paulo (2001). Em 2005 ele organizou a exposição Paulo Bruscky: Projetos e Propostas, Galeria Ibero Camargo, Porto Alegre (2005), e em 2006 publicou o livro Paulo Bruscky: Arte Arquivo e Utopia, Cristina Freire, seguidas pela exposição antológica curadoria de Paulo Freire com Bruscky: Ars brevis, Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (2007).












VT experimental no qual o artista, usando o eletroencefalógrafo, propõe um trabalho gráfico direto do cérebro para o papel sem usar intermediários (mãos, pés, etc.).






 









Entrevista com Paulo Bruscky*

Por Fernanda Lustosa

Quando se fala em Paulo Bruscky, não há como não pensar nas artes postal e xerográfica. Pioneiro no Brasil nessa vertente, foi talvez o artista mais atuante junto ao Fluxus, movimento que discutiu a arte conceitual em suas manifestações mais diversas e afastadas do sistema de arte. Autodidata, como ele mesmo se define, ganhou a Bolsa Guggenheim de Artes Visuais e desenvolveu pesquisas em Nova Iorque e Amsterdã. Organizou a1ª Exposição Internacional de Arte Postal, no Recife, em 1975, e enfrentou a censura na ditadura militar até que a arte correio pudesse se estabelecer novamente. Com um rico e vasto trabalho,o artista, que usa diversos recursos e que lançou a pergunta “O que é a arte? Pra que serve?”, diz afinal não saber responder, mas mostra que, para ele, arte e vida são uma só.

DASARTES: O senhor é um dos protagonistas da arte postal no Brasil. Como se deu isso?

PAULO BRUSCKY: Desde que eu publiquei, na década de 1960, o poema-processo dentro do movimento, a arte correio já tinha uma ligação com a América Latina. Depois, recebi uma corrente de Roberto Reis sobre o Fluxo, na antiga Alemanha oriental no início dos anos1970, e entrei no circuito. Foi extraordinário, uma coisa importantíssima na minha vida. A gente trabalhava em rede; já era uma espécie de internet antes da internet. Eu, aqui no Recife,sabia o que acontecia no mundo e vice-versa, no prazo de uma semana, que naquela época era o tempo que levava para uma correspondência ir ou retornar. A arte correio foi o telegrama, o telex que eu usei em 1973, foi o fax, que para mim é genial – a transmissão em tempo real, a questão da desmaterialização e rematerialização da obra de arte. E essa experiência no Brasil foi feita por mim e Roberto Sandoval. Eu do Recife; Roberto Sandoval de São Paulo, em 1980, tudo inclusive registrado. Até que chegou a internet. Ela, para mim, é a consequência lógica;não foi nenhuma novidade.

DASARTES: O seu trabalho lida com diversas linguagens experimentais na arte. Passa pela exploração de meios reprodutivos (xeroperformance), trabalhos no espaço público e seu ateliê-arquivo, só para citar alguns casos.Ou seja, há um permanente questionamento sobre a idéia e os limites da arte.Como o senhor pensa tais questões tanto no seu trabalho atual quanto no cenário contemporâneo hoje?


PAULO BRUSCKY: Eu acho que arte sempre foi uma forma. Primeiro, eu me deseduquei muito cedo da utilidade da idéia, que é uma forma mais de ver do que do fazer. Depois, eu comecei a trabalhar coma arte conceitual, com a instalação, a performance e diversas mídias. Eu não tenho uma temática. Trabalho com uma frente muito ampla, nunca tive uma só linha de trabalho. Minha formação é desenhista. Com 20 anos, ganhei o 1º prêmio de desenho no Salão de Pernambuco e antes já tinha ganhado vários prêmios com 16, 17 anos. Então você vai dominando uma técnica e passa a buscar outros horizontes, acho que isso é conseqüência normal do artista. É feito um sapateiro, como qualquer profissão que você vai dominando, buscando novas formas. Agora, para mim, a arte está em todo canto, na forma de vermos as coisas. O artista tem a utopia e existe para mostrar isso porque, infelizmente, as pessoas não vêem mesmo.

DASARTES: Em meio às diferentes reações e críticas que o senhor testemunhou em relação ao seu trabalho, houve alguma que destacaria?

PAULO BRUSCKY: Não. A minha maior gratificação é esse contato pelo correio, essa troca de idéia, de conceito. Foram criados novos espaços, porque qualquer lugar era espaço expositivo. A crítica, as instituições e a imprensa, com raras exceções, passaram à margem, e isso foi muito bom, foi uma coisa muito da minha geração. A própria crítica não entendeu o que fazíamos e fomos até, de certa forma,levados a teorizar sobre nosso próprio trabalho. No entanto, a respeito de reações, eu nunca analisei qualquer posição crítica sobre o meu trabalho. Se há alguma sugestão legal, eu incorporo. Se não, não me abala. Sempre fui criticado, sempre vivi à margem, então me acostumei com a ausência e com agressões da crítica e por parte da imprensa e do público em geral, apesar de achar que o público participava muito do que eu fazia.

DASARTES: Fale um pouco sobre a sua recente exposição no Parque Lage (ENTREIMAGENS, realizada de 12 de novembro de 2010 a 13 de março de 2011, no Rio de Janeiro), na qual foi feita um interessante recorte de seu trabalho em torno da poesia, inclusive em diálogo com o curador Adolfo Montejo Navas, também poeta.

PAULO BRUSCKY: Para mim foi importante. Em 2002, eu havia feito uma instalação no Rio de Janeiro que não teve muita repercussão, apesar de eu ter achado tudo genial. Foi quando eu conheci o Adolfo, que havia participado de um debate. Foi legal poder expor no Parque Lage, porque pude mostrar meu trabalho de uma forma mais ampla ao público do Rio, à própria imprensa e à crítica. A exposição também vem em bom tempo, já que neste ano sai um livro que há cinco anos vem sendo preparado pelo Adolfo sobre minha obra e a minha trajetória, chamado Poiesis, que costura essa parte da poesia em todo o meu trabalho. Como é um livro feito por um artista, faz uma análise muito profunda da minha obra, da qual uma pequena amostra está nessa exposição no Parque Lage.

DASARTES: Aquela rede de colaboradores nascidas na arte postal ainda cresce hoje? Há algum contato que tenha considerado especial?

PAULO BRUSCKY: Sim, recebo vários convites de pessoas dos anos 1970 e ainda continuo o contato com uma rede muito significativa: León Ferrari, Anna Banana, Bill Gaglione, Klaus Groh, vários artistas.Pela internet também continua, mas eu acho que a internet está sendo inteligentemente muito pouco usada pelos artistas. É uma ferramenta genial, mas os artistas a utilizam como se usassem outro meio qualquer de comunicação impressa, mais para divulgar sua obra do que como um meio mais inteligente para realizar uma obra. Parece que há uma ansiedade por parte dos artistas de querer logo revisar a obra e difundir. Talvez faltem mais pesquisas.

DASARTES: Lembro-me de que o senhor havia sido convidado para lecionar na Universidade Federal de Pernambuco em 2009 e recusou. Porquê?

PAULO BRUSCKY: Grande parte dos artistas que são professores estão mais preocupados com o status de professor e esquecem de ser artistas. E tudo o que você faz tem que ser bem feito. Logo, para ser um professor, tem que ser um bom professor, o que é uma responsabilidade muito grande. Uma vida já é muito e você não pode ocupar duas posições ao mesmo tempo, é uma questão física. Portanto, você tem que definir o que quer ser. Eu, por exemplo, preferi por muito tempo na minha vida ser funcionário público. Sabia que minha obra era difícil, que não vendia, e foi amaneira que encontrei de sobreviver. Hoje me aposentei. Eu agradeço, mas não me interessa ser professor. Não tenho nada contra, mas escolho usar esse tempo escrevendo, organizando minhas idéias e mídias, que foram desenvolvidas há muito tempo e que precisam de um histórico.

DASARTES: Gostaríamos de fazer-lhe a pergunta que o senhor lançou em uma performance de 1978: “O que é arte? Para que serve?”

PAULO BRUSCKY: Não sei, no dia que eu souber eu paro (risos). Eu acho que a questão da arte é uma busca eterna para o artista. Ele está sempre buscando novas formas de se expressar e de dizer algo ao grande público. Há uma frase que diz: “Arte é o que o artista faz”. Mas é uma coisa mais ampla, mais profunda. Vou morrer nessa procura.

*Publicada na edição 15 da D

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