sábado, 26 de abril de 2014

Ernesto Melo e Castro


  

Biografia
Ernesto Manuel Geraldes de Melo e Castro
(Covilhã, Portugal 1932)

Poeta e ensaísta. Diplomado em engenharia têxtil pelo Instituto Tecnológico de Bradford, Inglaterra, em 1956. Doutor em letras pela USP, em 1998. No Brasil, ministrou cursos de graduação e pós-graduação de literatura portuguesa, brasileira e africana, na USP, UFMG e UFRN. Na PUC/SP e na UNI/BH, ministrou cursos de pós-graduação de infopoesia e cibercultura. No Itaú Cultural, São Paulo, ministrou um curso sobre as origens da visualidade ocidental e a infopoesia.

IMPORTÂNCIA DE SUA OBRA

Praticante e teórico da poesia experimental portuguesa dos anos 60, introdutor em Portugal da poesia concreta (IDEOGRAMAS, 1961), é considerado pioneiro da videopoesia. Entre 1985 e 1989, desenvolveu na Universidade Aberta de Lisboa um projeto de criação de videopoesia denominado SIGNAGENS. Nesse projeto, Melo e Castro teve a idéia pioneira de lançar mão do gerador de caracteres para produzir poemas animados, pensados especificamente para veiculação na televisão. Na verdade, já em 1968, Melo e Castro havia realizado um pequeno videopoema de pouco menos de 3 minutos de duração, denominado Roda Lume, que chegou mesmo a ser colocado no ar, no ano seguinte, pela Rádio e Televisão Portuguesa, RTP, num programa de informação literária. Depois, mais exatamente em 1985, quando a Universidade Livre de Lisboa adquiriu um dispositivo completo de geração de caracteres e edição em vídeo, Melo e Castro foi convidado a desenvolver ali um projeto de videopoesia, que acabou por se constituir numa das referências mais importantes da atual poesia que utiliza recursos tecnológicos. Em 1993, realizou o videopoema em cinco partes Sonhos de Geometria, de 30 minutos, publicado em cassete VHS como anexo ao número especial 7/8 de MENU, cadernos de poesias, Cuenca, Espanha.

OBRAS:
·          
Roda Lume consiste num "poema experimental animado", realizado por E. M. de Melo






Roda Lume (1969)
2m 50s
Realizador:  ·  Ernesto de Melo e Castro
“Um impulso em direcção ao uso dos novos meios tecnológicos resultou na produção do meu primeiro videopoema – Roda Lume – a preto e branco, que consistia em formas geométricas animadas e palavras que foram previamente desenhadas à mão. A animação foi feita através da montagem directa na câmara, registando imagem após imagem com um corrector baseado no tempo. Primeiro foi feita um storyboard com a sequência imagética e o respectivo tempo. O som foi acrescentado no final como uma leitura fonética improvisada das imagens visuais. Fui eu que produzi pessoalmente o som.”
[Melo e Castro (S/D), Videopoetry] -
http://www.ociocriativo.com.br/
guests/meloecastro/video.htm
- See more at: http://www.cinept.ubi.pt/pt/filme/8975/Roda+Lume#sthash.60lwisqb.dpuf
http://www.cinept.ubi.pt/pt/filme/8975/Roda+Lume
Ficha técnica
E. M. de Melo e Castro
Infopoesias e Videopoesias, 1985 / 1993
Infopoesia e videopoesia

Descrição
As histórias dos enigmáticos bisontes geômetras de Lascaux, 15.000 a.C. tratados em computador no final do segundo milênio d.C. (infopoesia). Compreende os videopoemas Diazulando, Poética dos Meios, Infografitos, Sonhos de Geometria, Ideovídeo.
·                               Infopoesias e Videopoesias
·                               Poética dos Meios e Arte High Tech
·                               Uma Transpoética 3

E. M. DE MELO E CASTRO
E. M. de Melo e Castro é nome consagrado na poesia visual e experimental, atuante em Portugal e no Brasil onde já publicou uma série considerável de títulos tanto de poemas como de teoria e crítica literárias. Os poemas deste livros foram compostos entre 2003 e 2010, em Lisboa, Porto, Algarve e São Paulo. Edição primorosa, caprichosa, inventiva. Pioneiro no uso do computador nas suas composições poéticas, em infopoemas, E. M. de Melo e Castro ainda consegue surpreender com sua inventividade.

De
e.m.de melo e castro
Neo-Poemas-Pagãos
São Paulo: Annablume, 2010.  156 p. ilus.
(Coleção Demõnio Negro,).
Edição de 200 exs. numerados capa dura  com tecdo alemão

Escolhemos duas peças pra dar ciência da variedade de sua criação, uma em que deforma e monta um poema visual a partir de um texto mallarmáico, com tipos 'tipográficos" variados que são distorcido pelo aplicativo computacional para chegar a uma contradição notável: transformar em imagem o texto para dar-lhe o sendo. O visual é que efetivamente amplia a significação semântica do discurso. Em outras palavras, o texto discursivo, com as intervenções "tipográficas" em sua arquitextura, se concretiza ou coisifica na intervenção digitalizada.


O segundo trabalho é um "soneto" nada convencional, sem desprezar as rimas...
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The cryptic eye is an approach to infopoetry. / Infopoety is made with the use of the computer thus adding the virtual reality of the poetic images to the virtual, dematerialized of the synthetic imagery and writing produced by the computer. / Infopoetry is metavirtual, bringing with it the difficult reading of the non obvious." E. M. DE MELO E CASTRO, in  "FINITOS   MAIS INFINITOS"  (Lisboa: Hugin Editores, 1996). De onde extraímos o seguinte exemplo
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Comentário de Jayro Luna
(Doutor em Literatura Portuguesa, USP)

Em Portugal, a poesia concreta também prosperou, e embora seja tributária inicialmente dos experimentos inovadores do grupo Noigandres, logo tratou de seguir caminho próprio, associando características com a herança cultural e literária portuguesa (Barroco, Futurismo, Surrealismo) que acabaram por configurar não só um paideuma caracteristico, mas elementos estruturais diferentes da produção brasileira, dando como resultado uma poesia concreta singular.

Tal fato se deve em parte ao desenvolvimento da chamada poesia experimental portuguesa, que já nos primeiros anos da década de 60 encontrava uma preocupação formal que aEbriria o campo para a simbiose com o Concretismo vindo de além mar.

No caso da utilização de elementos estatístico-probabilisticos na poesia concreta portuguesa, tomemos como exemplo um poema de E.M. de MeIo e Castro, "Soneto Soma 14X", do livro Poligonia do Soneto,1963.
É um soneto que se insere naqueles que farão a crítica do soneto como forma poética.
O soneto "Soma 14X" é composto de números e, nesse sentido, conhecendo algumas da regras compositivas do soneto, e observando, que no caso deste poema, a soma dos números de um verso devam totalizar 14, é possível subtrair-se alguns versos c pedir a alguém que complete os versos faltantes, num raro exercício de análise matemática da forma.
O soneto em questão, apresenta rimas numéricas, assim, no caso da reconstituição é possível, sabendo-se com qual determinado verso rima, já saber de antemão qual o último dos cinco números que compõem o verso. Os outros quatro números do verso, resultaram de uma soma baseada no fato do total do verso dar 14, e de que não há um só verso repetido neste soneto. Observe-se ainda, que o último verso deste soneto, o verso "chave de ouro" dá soma 28 (duas vezes 14), como que a querer dizer que é um verso que vale mais do que os outros.
Numericamente, portanto, é possível neste nosso exercício de reconstrução produzir variantes do soneto, mas que funcionalmente, exerceram o mesmo papel desempenhado pelo original de Meio e Castro, que crítica justamente a forma padrão para o fazer poético.
Cabe observar ainda, que se retirássemos não um verso, mas somente um número de cada verso, a possibilidade de reconstrução integral do soneto em relação ao original, seria de 100%

Extraído de LUNA, Jayro.  Caderno de Anotações. Belo Horizonte/São Paulo: Signos/Editora Oporetuno, 2005. p. 74-75



Na visão do autor E. M. DE MELO E DCASTRO:  “Aqui o poema tende, de fato, a ser um objeto que a si próprio se mostra. Estabelece-se assim uma ligação direta com a poesia visual  e concreta, em que a substantivação de todos os seus elementos é total. Melhor: existe uma sintaxe espacial em que os elementos constitutivos do poema se articulam no espaço pelas suas posições relativas na página, como objetos formando um edifício. Por isso através da substantivação e coisificação se passa simultaneamente ao plano estrutural da experiência humana e ao campo visual e objetivo da informação e ainda ao pode sintético das escritas ideogramáticas. Assim num poema concreto, um reduzido número de palavras o até uma só palavra, decomposta nos seus elementos de formação, sílabas, fonemas, letras, pode adquirir uma ressonância sugestiva de tipo sinestésico imediato, muito diferente do que a linguagem descritiva conseguiria alcançar.”
In> MELO E CASTRO, E. M. de. O Próprio Poético.  São Paulo: Quiron, 1973.   p.67

“Padrões de interferência: efeitos cinéticos interativos obtidos por sobreposições sucessivas de elementos sígnicos. A sobreposição de textos como princípio de abstração resultando em imagens não necessariamente verbais (literais) de geometria variável, propondo diferentes possibilidades de leitura: a ilegibilidade como leitura visual-visual. No mesmo passo as interferências podem abrir lapsos de legibilidade literal aleatórios, de sentidos inesperados (?). Signos verbais se potenciam outros.”


“Estamos perante a desleitura nas suas infinitas formas por sobreposição e interferência sígnica, criptovisual e talvez mesmo subliminar, abrindo-se para os transentidos. A ilegibilidade que aqui se escreve não é efetivamente nem do texto nem do leitor, mas sim de ambos, interativando a opaci(vi)dade de um com a negolucidez do outro. Não existe a ilegibilidade do sentido porque ele sempre se lê em todos os sinais (não há sinais inocentes) mas sim a constante variabilidade e oscilação entre sentido literal, sentido metafórico, sentido visual-visual e transentido, tendendo para o tanszero da mensagem: transliteralidade da desleitura, para o próprio poético.”



“Os poemas resultam portanto da interação de três elementos: o indivíduo operador, o hardware e o software, interação sem a qual estes poemas não seriam possíveis. Se a noção convencional de autor é assim relativizada, deve salientar-se que é do autor que depende a condução e intencionalidade do processo criativo, tal como a aceitação ou recusa crítica dos resultados obtidos.”

A tentação da pergunta — mas afinal onde fica o eu do poeta? deve responder-se — fica onde sempre esteve, isto e, no eu do poeta. Mas agora esse eu se encontra potenciado pela sinergia com a máquina, o que vai marcar não só a dinâmica do processo criativo como as características estéticas das imagens assim obtidas.”

E. M. DE MELO E CASTRO
   em ALGORITMOS infopoemas 1998
São Paulo: Musa Editora, 1998. 




CASTRO, E. M. de Melo e.  O caminho do leve.  The way to lightnessPorto: Museu Serralves – Museu de Arte Contemporânea, 2006. Catálogo da exposição: 10 de Fevereiro de a 30 de Abril de 2006.  Ilus col.  22x31 cm. 
Fragmentos de uma entrevista concedida por E. M. de Melo e Castro, em maio de 2001, a Jorge Luiz Antonio que está no Catálogo às páginas 219 a 228, e na versão em inglês de 229 a 237. 
“Mas, de fato, a minha atitude criativa, minha atitude mental, emocional, se quiserem, é exatamente a mesma: eu tanto escrevo um soneto como faço um videopoema, ou faço, digamos um storyboard para um videopoema: é uma criação, se quisermos dizer, textual que, para o meu sistema de produção, não tem diferenças. Evidentemente que os meios de trabalho são diferentes, mas eu me refiro à atitude mesma.”  (...) Eu insisto na palavra “poema”, justamente porque todo este processo, para mim, é um complexo processo de poiésis, no sentido grego mais rigoroso, isto é, o de fazer aquilo que ainda não foi feito.”

(...)”Não abdico da palavra “arte”, não abdico da palavra “artista”, nem abdico da palavra “poema”. Mas, simplesmente, talvez se possa dizer, um tanto ironicamente, que eu seja um artista “turbinado” (...)” (,,,) “Mas, entretanto, é necessário redefinir a palavra “arte”, redefinir a palavra “artista”, redefinir a palavra “poema” porque hoje o que está em jogo nessa produção dita criativa ou inventiva é realimente uma provocação à própria fruição estética.” p. 219
“Bom, a passagem da poesia visual gráfica, jogada no papel, para a poesia visual que só existe nas telas das máquinas informáticas é uma passagem, digamos, drástica, porque se passa do peso do peso do átomo do papel e do átomo da tinta e até do peso dos instrumentos escreventes, digamos assim, para a virtualidade dos bits e a virtualidade dos pixels, ou seja, passamos da matéria para a energia e isso dá uma transformação radical, de fato.”  (...) “E se me perguntar especificamente quais são os elementos gramáticos, digamos assim, que são diferentes do trabalho de Mallarmé e mesmo da poesia concreta ortodoxa, isto é, quais os elementos de diferenciação da infopoesia, da videopoesia ou da holopoesia, direi que agora estamos a trabalhar com o movimento e a própria transformação das formas, e por isso dos significados, em dimensões que podem ser até fractais.” (...) “Como o Jorge Luiz Antonio se referiu, num de seus textos, estamos talvez perante um gênero novo. E deverá ou não deverá continuar a chamar-se poesia? Bem, eu acho que sim (...)”  p. 220.


Uma das peças desdobráveis contidas na caixa ”OBJECTA” (1061-1968) com “poemas cinéticos” / “kinetic poems”.








A poesia digital de Ernesto de M. e Castro

A poesia é a vida de Ernesto de Melo e Castro, poeta, pesquisador e professor português, que recentemente esteve na Biblioteca Municipal de Sorocaba ministrando uma palestra na Semana Internacional de Literatura, evento organizado pela Academia Sorocabana de Letras.



Com certeza tal iniciativa é louvável, digna de apoio e participação. Não apenas este grande nome da poesia integrou a programação, outros igualmente importantes e essenciais dentro da contribuição cultural oferecida, seja para Sorocaba, o país ou o mundo, estiveram presentes.

Falando sobre infopoesia - o objetivo desta postagem -, é claro que foi um prazer e uma oportunidade de conhecimento assistir a palestra de Ernesto de Melo e Castro, zeloso, dedicado, simpático, apaixonado pelo que faz. Um homem de 78 anos que continua experimentando a poesia em suas manifestações. 


“Quando olho para trás vejo que toda minha vida foi conduzida sempre pela ideia da inovação, da diferença e do futuro”, disse. Só para lembrar: ele foi pioneiro na vídeopoesia e responsável por introduzir a poesia concreta no país de origem, Portugal. Foi teórico e praticante da poesia experimental portuguesa nos anos 60. Na década seguinte, com seu primeiro computador, escreveu seu nome na história da vídeopoesia mundial. Como professor em atividade, Ernesto de Melo e Castro não tem limites para sua criação.

“São as coisas que desconhecemos que irão definir nosso futuro”, afirmou sabiamente. Com certeza baseado numa vivência que comprova tal colocação. O computador para nós, hoje, é tão comum quanto uma caneta. Quando jovem, não, o poeta português deparou-se com uma invenção extraordinária, desconhecida. E foi ela que determinou seu futuro. “Os fatores que determinam nosso futuro são improváveis”: frase instigante para filosofarmos.

Ernesto de Melo e Castro também falou sobre a discussão em torno do fim do livro. Disparou: “Essa discussão é uma bobagem. Por muitos séculos ele vai ser insubstituível”, prevê. “As novas tecnologias acrescentam, não eliminam as já existentes”.  Lembrou de Gutemberg: “ele foi genial, reuniu as condições técnicas para imprimir em papel”. E acrescenta: “ele morreu pobre e endividado, temos uma dívida com ele”. Alguém discorda?

Sobre a vídeopoesia e a infopoesia Ernesto foi questionado: “o EU do poeta, onde fica”? E respondeu: “Fica no lugar onde exatamente sempre esteve: dentro do Eu do poeta”!

Na palestra ele falou um pouco do origem do uso do computador para criar poesia. E fez referência à poesia concreta. “A poesia concreta é o psico-estético da atual poesia digital, ou seja, da infopoesia e da videopoesia”.


Ernesto de Melo e Castro explicou que “a poesia concreta lê-se ideogramaticamente, de uma só vez, instantaneamente, é um signo total, para ser vista e apreciada num todo”. Ideograma: conjunto completo de signos que entre si se articulam significativamente. Só depois vêm as interpretações possíveis.

Mais uma vez o encontro com o poeta português foi uma oportunidade de contato com o conhecimento e a sensibilidade, mesmo que a linguagem poética usada por ele não nos seja comum ou reflita nossa produção. Entretanto, sem dúvida alguma, coopera para que sejamos poetas mais ousados, intuitivos, abertos ao novo e entendermos que há diversas formas de poetizar.

http://jornalipanema.com.br/blogs/andrea-freire/2048-a-poesia-digital-de-ernesto-de-m-e-castro

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